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sexta-feira, 6 de março de 2009

Latinoamericanizar o Brasil!

Acabo de voltar da Argentina, onde participei do VII Encontro Latino Americano de Organizações Populares Autônomas (ELAOPA), que ocorreu entre os dias 27 de fevereiro e 1 de março, na cidade de Luján, próximo a Buenos Aires. Lá foi possível tomar contato com uma grande variedade de experiências militantes, em várias áreas, da cultura ao sindicalismo, passando pela questão de gênero, educação popular e recursos naturais. Participaram organizações e indivíduos do Brasil, Argentina, Chile, Uruguai, Bolivia e México. Foi uma oportunidade para perceber o quanto nós, brasileiros, estamos distantes, culturalmente e socialmente do que acontece neste nosso continente. Como se não fizessemos parte dele.
Basta folhear um livro escolar comum, com uma qualidade razoável, de história argentina ou boliviana e veremos como os temas são tratados. Ou seja, resumindo, temos uma história comum enquanto povos. Há mais de 10.000 anos, os primeiros seres humanos chegaram neste continente, se instalaram, desenvolveram-se, confrontarem-se, enfim, fizeram sua história. Há pouco mais de 500 anos, houve a chegada dos invasores vindos da Europa (sim, é assim que aparece no livro: invasores!) e, bom, o resto muita gente sabe, levaram toda a riqueza que encontraram, escravizaram povos e dividiram o continente em territórios, chamados países. Aqui, nas escolas brasileiras, temos a impressão que nossa história começa com a chegada dos “descobridores” portugueses.Dos países latinoamericanos poucos não possuem o castelhano como idioma, o Brasil é um deles, falamos português. É bem provável que essa seja uma das causas deste distanciamento cultural do qual comecei falando. Mas, como vimos, a distância histórica não é muita.
Conhecemos todos os músicos e bandas do circuito europeu e estado-unidense, porém é difícil um brasileiro mediano citar uma banda ou músico latinoamericano. Shakira, Fito Paez, isso é o máximo que se consegue. Isso que nem perguntei dos grupos e músicos folclóricos. Assistimos aos campeonatos de futebol inglês, italiano e espanhol, e não sabemos o que acontece no futebol do nosso continente, fora a Copa Libertadores e Sul-americana (Alguém poderia argumentar que é pela qualidade do futebol. Tenho dúvidas, pois é duro assistir a um Arsenal X Midlles Brow da vida, por exemplo). Bem, nesse campo, do futebol, sou obrigado a registrar que no Rio Grande do sul, nos últimos anos, tem havido uma certa influência das Barra-Bravas latinoamericanas nas torcidas da dupla Gre-nal. O que isso pode significar? Bom, seria preciso um estudo antropológico, mas tendo a opinar que há algo de positivo.
Às vezes em meios de comunicação, os quais têm seus conteúdos repetidos pelas pessoas, ouvimos ou lemos a palavra gringo para se referir a um argentino, uruguaio ou até paraguaio (detalhe, o paraguai tem o guarani como língua oficial)!!! Isso se vê em programas de futebol. Que é um dos assuntos mais importantes no Brasil (assim como em todos os países sul-americanos, menos Venezuela, onde jogam beisebol).Mas é uma besteira, pois, gringos, são Yankees. Bom, acabamos estendo a palavra para canadenses, europeus, neozelandeses e australianos.
Os efeitos maléficos da doutrina neoliberal no nosso continente se manifestaram com grande intensidade nos fins dos anos 90 e início dos 2000. Pobreza, desemprego, violência, repressão, etc. Qual foi a resposta popular dada em muitos países latinoamericanos? Na Argentina, Bolívia, Equador, México e Venezuela o povo saiu às ruas e caíram muitos presidentes. Quando observamos as formas de luta em qualquer país desse nosso continente, estão lá os pneus em chamas e as estradas bloqueadas. Qual é a prática mais comum da nossa triste esquerda? Seguir um caminhão de som. Pobre povo brasileiro, obrigado a se contentar com isso.
Não há um jovem argentino ou uruguaio que não saiba dos milhares de desaparecidos nos regimes militares dos seus países. Não estou falando de militantes. E, sim, de pessoas comuns, que trabalham, estudam, pegam ônibus, vão à festas, etc. Agora, imagine um jovem brasileiro que tenha esse perfil, depois vá lá e lhe pergunte sobre a ditadura militar, sobre Lamarca, Araguaia... Espero que tenha uma resposta melhor do que as que sempre encontro.
No fim, o que quero dizer com tudo isso é que os lutadores populares desse país devem se abrir para a influência latinoamericana, observar, conhecer nossos vizinhos. Devemos deixar que corra por aqui esse vento quem vem da Cordilheira, que vem do Chaco, da Patagônia, da Amazônia, do Caribe, etc. Não somos brasileiros, somos apenas habitantes dessa parte do continente que foi invadida por conquistadores diferentes, de fala portuguesa. Por isso, digo que temos que Latinoamericanizar o Brasil!! Quebrar esse campo de força que nos separa de nossos vizinhos, ser como eles, sentir suas dores. Assumir o Sul como nosso Norte! Isso é o que os ricos deste país mais lutam para impedir.

Um comentário:

koisarada disse...

Vc esqueceu Rick Martin e RBD...Ah ,e a Talia.