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domingo, 13 de setembro de 2009

Polícia não serve pra nada!2

Gostaria muito de não utilizar mais este espaço para fazer críticas a instituição conhecida como polícia. Mas estão sempre me dando motivos, então estou aqui de novo. Desta vez, colocando minha opinião através de um texto, o que normalmente faço com as charges e desenhos. Vou contar uma história que está se passando comigo neste momento e, através dela, discutir se precisamos do “serviço” que nos presta a citada instituição.

Vamos a história. No mês de junho deste ano de 2009, era a hora do recreio na Escola Municipal de Ensino Fundamental José Link, no município de Gravataí, onde trabalho como professor, no período da noite. Estava funcionando o projeto Rádio Escola, que tinha recém iniciado, o qual consiste de um aparato de som usado pelos alunos para tocar música e enviar recados. Tudo corria tranqüilamente até que, do lado de fora da escola, uma patrulha da Brigada Militar (PM do Rio Grande do Sul), começou a fazer abordagens. Como era de se esperar, a ação alvoroçou a garotada que gritava, assobiava e se manifestava, não sei se para os brigadianos ou para seus vizinhos que eram abordados.

Não pude perceber se gritavam coisas ofensivas ou não. O fato é que, de repente, a patrulha decidiu que entraria na escola. Entrou e se dirigiu para a sala dos professores, em busca da diretora da escola. A sala do projeto da Rádio Escola, onde eu estava, fica antes da sala dos professores e, enquanto dois PM’s se dirigiam para lá, um deles parou na sala do projeto e nos apontou o dedo dizendo: “desliga isso!” Como já estou acostumado com a ignorância dos brigadianos, obedecemos na hora. Encontraram a vice-diretora, sob o pretexto de que a música estava fazendo “juntamento” em volta da escola, ordenaram que o som fosse desligado. Feito isso foram embora, cantando pneus sob a forte vaia dos alunos. Estes relatam atitudes, no mínimo, estranhas para um PM tomar dentro de uma escola. Como, por exemplo, encarar um grupo de alunos e perguntar se “tinha algum homem” ali.

Bom, depois disso, foi redigido pela escola, um ofício, endereçado a Guarda Municipal, pedindo que esta exigisse explicações por parte da Brigada Militar de Gravataí sobre essa atitude de alguns brigadianos de entrarem em uma escola e ordenar que um projeto fosse interrompido, sem nenhuma explicação plausível, fora o “juntamento” de jovens em volta da escola (coisa que acontece desde que a escola foi construída naquela comunidade). O ofício trazia que os brigadianos foram “truculentos e autoritários”. Essas palavras parece que deixaram a Brigada Militar de Gravataí “dodoizinha”. Dias depois, um tal sargento ligou para escola pedindo a presença nossa no quartel da Brigada. Fomos para lá, a vice-diretora e eu. Imaginávamos que era para fazer uma conversa ou até um pedido de desculpas por parte deles. Mas na verdade era uma armadilha. O tal sargento nos fez, na verdade, um interrogatório para uma sindicância, pedindo nossos nomes e endereços. Nos pediu para relatarmos tudo que aconteceu, sempre querendo que especificássemos o “truculentos e autoritários” e nunca se satisfazia com nossas explicações. Parece que para eles é uma coisa muito normal que um policial aponte um dedo e dê uma ordem para um professor, dentro de uma escola, sem explicação alguma. Depois dos depoimentos, fomos dispensados. E saímos com aquele sentimento de “será que vai dar alguma coisa isso tudo?”

Seguimos nossas vidas normalmente. E, no dia oito de setembro chegou uma carta na escola. Era uma intimação a mim e a vice-diretora, para uma audiência com dois dos brigadianos que estavam naquela noite. Como a sindicância não deu em nada (o que é óbvio) eles se sentiram injustiçados e nos processaram por “danos morais”, com uma indenização de R$ 9.300,00 para cada um deles. Na carta dizia que eles estavam ali para atender um “chamado” da comunidade de que a música da escola estava molestando a vizinhança. E de que eles não teriam sido “truculentos” nem “autoritários”.

Claro que não o foram, eu obedeci quando me deram a ordem. E se por acaso eu tivesse dito: O quê? Vocês pensam que estão onde? O que será que teria acontecido comigo, se tivesse dito isso? Acho que a resposta é óbvia. Aconteceria o que acontece com todos os “desaforados” das vilas e bairros pobres. O que aconteceria com o aluno que respondesse a provocação de que “se tem algum homem aí?”.

Esse é o preço que pagamos para ter “proteção”: algumas pessoas na sociedade poderão andar fardadas, dar ordens, te mandar calar a boca, te fazer gracinhas, te abordar, te multar, entrar na tua casa, quebrar tuas coisas, te dar cacetada, te rachar a cabeça, te disparar balas de borracha ou gás lacrimogêneo, te torturar e te matar. Porém tudo isso é para que exista “segurança”. Eu dispenso essa segurança.

Se eu pudesse, faria um trato com o Estado. Eu pediria isenção da parte do meu imposto que vai para a polícia, ficaria dispensado de ser abordado na rua, de ser multado e de ser espancado. Em troca, se acontecesse de me dar um ataque de loucura e eu discasse para o 190 para pedir alguma coisa, que o atendente, ao me identificar, pudesse se negar a me “ajudar”, já que não tenho cobertura do “serviço” da Brigada Militar.

Esse seria um bom trato, já que, de fato, não preciso da polícia para porra nenhuma. Pois, se é para ser roubado, isso sempre acontece comigo de qualquer maneira, e polícia nenhuma nunca me ajudou com isso. Isso mesmo, não quero nada da polícia, nem bom dia, nem boa tarde.

Dia 30/09 é minha audiência com os senhores pagos para me “proteger”, isso não devia lhes dar o direito de entrar no meu trabalho e me dizer o que devo fazer.

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