
Uso este espaço mais uma vez com um objetivo diferente do proposto incialmente (denúncia gráfica a violência estatal-policialesca). Agora, gostaria de dissertar sobre uma obra de História em Quadrinhos (HQ's) argentina, intitulada “El Eternauta”, a qual, de certa maneira, veremos que não deixa de relacionar-se com o tema abordado neste blog.
“El Eternauta” é uma obra que, infelizmente, segue desconhecida do público brasileiro em geral, mesmo daquele que mais se interessa por HQ's. Por alguma razão estranha ou não, nos chega mais facilmente a produção estadounidense e européia. Conhecemos muito bem autores como Alan Moore, Neil Gaiman, Frank Miller, etc. Cujos nomes representam muito para a arte sequencial mundial, porém não mais que figuras como Hector Germań Oesterheld (HGO) e Francisco Solano Lopez, respectivamente o roterisita e o desenhista do trabalho que trago aqui para o debate.
Tive contato com “El Eternauta” na última viagem que fiz para a Argentina, onde esta HQ é muito cultuada, tratando-se de um clássico. A edição que tenho em meu poder é uma comemoração de 50 anos do lançamento desta obra (1957-2007). Bom, sobre o que trata afinal de contas esse trabalho? É uma obra de ficção-científica que relata uma invasão alienígena na Terra, tendo como cenário a cidade de Buenos Aires. A narrativa traz várias referências a conjuntura internacional. Os grandes líderes da invasão são os alienígenas conhecidos apenas por “Ellos” (Eles), cujas aparências não são reveladas na história e sob cujo comando estão todas as outras formas alienígenas, inclusive alguns terráqueos. Todos são manipulados pelos “Ellos” através de “teledirecionadores” (tradução minha). Na história, os terráqueos que fazem a resistência descobriram esses aparatos de manipulação e tentavam atacá-los.
É quase impossível ler a história e não relacioná-la com a realidade em que vivemos. Quem é miltante ou ativista político sempre está atrás de explicitar às pessoas quem são os “ellos” que nos manipulam. Talvez sejam, realmente, só uma idéia. O capitalismo é também idéia, além de uma relação social. Mas se manifesta materialmente, podemos dizer, através das pessoas. Seria bom, da mesma maneira, se pudessemos ver às claras, se nos estivessem à mostra, os “teledirecionadores” pelos quais as pessoas são manipuladas. Imagine em uma manifestação, se pudessemos arrancar dos policiais esses aparatos e tudo ficasse bem. O problema é que os “teledirecionadores” que nos implantam só podem ser arrancados por nós mesmos, não por outros, e não estão à vista.
O criador de “El Eternauta”, o roteirista HGO, tem uma história tão incrível quanto qualquer outra que ele mesmo pudesse escrever. Ao contrário de seus colegas europeus e estadounidenses, o argentino nasceu e fez sua carreira na América Latina, onde a valorização cultural, por parte dos governos, nunca foi o forte. “El Eternauta” teve outras continuações depois de 1957. Fazendo uma relação crítica cada vez maior com a conjuntura político-social da sua época. Como consequencia disso, a imunda milicada argentina (tão imunda quanto a daqui) "despareceu" com suas quatro filhas, seus netos e ele próprio, durante a última ditadura militar no país vizinho. Os netos, mais tarde, foram devolvidos para a esposa de HGO, Elsa Sanchez. O desenhista, Francisco Solano Lopez, descendente do presidente paraguaio de mesmo nome, teve que passar por um exilio na Espanha, devido a atividade política do seu filho.
Por isso tudo, acredito que esta é uma obra que demorou demais para ser conhecida pelo público brasileiro, espero que algum editor tenha a iniciativa de fazer a sua primeira tradução para o português. Talvez isso seja facilitado agora que haverá uma versão de “El Eternauta” para o cinema, com a direção da argentina Lucrécia Martel.
É isso aí.
“El Eternauta” é uma obra que, infelizmente, segue desconhecida do público brasileiro em geral, mesmo daquele que mais se interessa por HQ's. Por alguma razão estranha ou não, nos chega mais facilmente a produção estadounidense e européia. Conhecemos muito bem autores como Alan Moore, Neil Gaiman, Frank Miller, etc. Cujos nomes representam muito para a arte sequencial mundial, porém não mais que figuras como Hector Germań Oesterheld (HGO) e Francisco Solano Lopez, respectivamente o roterisita e o desenhista do trabalho que trago aqui para o debate.
Tive contato com “El Eternauta” na última viagem que fiz para a Argentina, onde esta HQ é muito cultuada, tratando-se de um clássico. A edição que tenho em meu poder é uma comemoração de 50 anos do lançamento desta obra (1957-2007). Bom, sobre o que trata afinal de contas esse trabalho? É uma obra de ficção-científica que relata uma invasão alienígena na Terra, tendo como cenário a cidade de Buenos Aires. A narrativa traz várias referências a conjuntura internacional. Os grandes líderes da invasão são os alienígenas conhecidos apenas por “Ellos” (Eles), cujas aparências não são reveladas na história e sob cujo comando estão todas as outras formas alienígenas, inclusive alguns terráqueos. Todos são manipulados pelos “Ellos” através de “teledirecionadores” (tradução minha). Na história, os terráqueos que fazem a resistência descobriram esses aparatos de manipulação e tentavam atacá-los.
É quase impossível ler a história e não relacioná-la com a realidade em que vivemos. Quem é miltante ou ativista político sempre está atrás de explicitar às pessoas quem são os “ellos” que nos manipulam. Talvez sejam, realmente, só uma idéia. O capitalismo é também idéia, além de uma relação social. Mas se manifesta materialmente, podemos dizer, através das pessoas. Seria bom, da mesma maneira, se pudessemos ver às claras, se nos estivessem à mostra, os “teledirecionadores” pelos quais as pessoas são manipuladas. Imagine em uma manifestação, se pudessemos arrancar dos policiais esses aparatos e tudo ficasse bem. O problema é que os “teledirecionadores” que nos implantam só podem ser arrancados por nós mesmos, não por outros, e não estão à vista.
O criador de “El Eternauta”, o roteirista HGO, tem uma história tão incrível quanto qualquer outra que ele mesmo pudesse escrever. Ao contrário de seus colegas europeus e estadounidenses, o argentino nasceu e fez sua carreira na América Latina, onde a valorização cultural, por parte dos governos, nunca foi o forte. “El Eternauta” teve outras continuações depois de 1957. Fazendo uma relação crítica cada vez maior com a conjuntura político-social da sua época. Como consequencia disso, a imunda milicada argentina (tão imunda quanto a daqui) "despareceu" com suas quatro filhas, seus netos e ele próprio, durante a última ditadura militar no país vizinho. Os netos, mais tarde, foram devolvidos para a esposa de HGO, Elsa Sanchez. O desenhista, Francisco Solano Lopez, descendente do presidente paraguaio de mesmo nome, teve que passar por um exilio na Espanha, devido a atividade política do seu filho.
Por isso tudo, acredito que esta é uma obra que demorou demais para ser conhecida pelo público brasileiro, espero que algum editor tenha a iniciativa de fazer a sua primeira tradução para o português. Talvez isso seja facilitado agora que haverá uma versão de “El Eternauta” para o cinema, com a direção da argentina Lucrécia Martel.
É isso aí.
5 comentários:
Muito foda. Eu tenho que ter ascesso a essa relíquia.
Eu consegui um link pra baixar a versão on line, mas não é a mesma coisa.
Po, não tava ligado nesse "gibi". Muito massa. Vamo faze uma traduação alternativa e rodar pra gurizada.
Muito bom os comentários que tu fez, ainda não li, mas pretendo...
Cara!
Fantástica descoberta eu realmente desconhecia essa HQ. E tenho uma suspeita que a cada dia se torna mais forte e real: o nome daqueles aparelhos por aqui chama-se "televisão".
Já tinha ouvido falar dessa publicação. Mas, por motivos óbvios, nunca tive em mãos. Nem vi por aqui.
Como dizia um sábio do Pasquim cujo nome não me ocorre aqui:
Desenhar em tempos de repressão é simples, basta "correr o risco".
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