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sábado, 27 de junho de 2009

EL ETERNAUTA


Uso este espaço mais uma vez com um objetivo diferente do proposto incialmente (denúncia gráfica a violência estatal-policialesca). Agora, gostaria de dissertar sobre uma obra de História em Quadrinhos (HQ's) argentina, intitulada “El Eternauta”, a qual, de certa maneira, veremos que não deixa de relacionar-se com o tema abordado neste blog.
“El Eternauta” é uma obra que, infelizmente, segue desconhecida do público brasileiro em geral, mesmo daquele que mais se interessa por HQ's. Por alguma razão estranha ou não, nos chega mais facilmente a produção estadounidense e européia. Conhecemos muito bem autores como Alan Moore, Neil Gaiman, Frank Miller, etc. Cujos nomes representam muito para a arte sequencial mundial, porém não mais que figuras como Hector Germań Oesterheld (HGO) e Francisco Solano Lopez, respectivamente o roterisita e o desenhista do trabalho que trago aqui para o debate.
Tive contato com “El Eternauta” na última viagem que fiz para a Argentina, onde esta HQ é muito cultuada, tratando-se de um clássico. A edição que tenho em meu poder é uma comemoração de 50 anos do lançamento desta obra (1957-2007). Bom, sobre o que trata afinal de contas esse trabalho? É uma obra de ficção-científica que relata uma invasão alienígena na Terra, tendo como cenário a cidade de Buenos Aires. A narrativa traz várias referências a conjuntura internacional. Os grandes líderes da invasão são os alienígenas conhecidos apenas por “Ellos” (Eles), cujas aparências não são reveladas na história e sob cujo comando estão todas as outras formas alienígenas, inclusive alguns terráqueos. Todos são manipulados pelos “Ellos” através de “teledirecionadores” (tradução minha). Na história, os terráqueos que fazem a resistência descobriram esses aparatos de manipulação e tentavam atacá-los.
É quase impossível ler a história e não relacioná-la com a realidade em que vivemos. Quem é miltante ou ativista político sempre está atrás de explicitar às pessoas quem são os “ellos” que nos manipulam. Talvez sejam, realmente, só uma idéia. O capitalismo é também idéia, além de uma relação social. Mas se manifesta materialmente, podemos dizer, através das pessoas. Seria bom, da mesma maneira, se pudessemos ver às claras, se nos estivessem à mostra, os “teledirecionadores” pelos quais as pessoas são manipuladas. Imagine em uma manifestação, se pudessemos arrancar dos policiais esses aparatos e tudo ficasse bem. O problema é que os “teledirecionadores” que nos implantam só podem ser arrancados por nós mesmos, não por outros, e não estão à vista.
O criador de “El Eternauta”, o roteirista HGO, tem uma história tão incrível quanto qualquer outra que ele mesmo pudesse escrever. Ao contrário de seus colegas europeus e estadounidenses, o argentino nasceu e fez sua carreira na América Latina, onde a valorização cultural, por parte dos governos, nunca foi o forte. “El Eternauta” teve outras continuações depois de 1957. Fazendo uma relação crítica cada vez maior com a conjuntura político-social da sua época. Como consequencia disso, a imunda milicada argentina (tão imunda quanto a daqui) "despareceu" com suas quatro filhas, seus netos e ele próprio, durante a última ditadura militar no país vizinho. Os netos, mais tarde, foram devolvidos para a esposa de HGO, Elsa Sanchez. O desenhista, Francisco Solano Lopez, descendente do presidente paraguaio de mesmo nome, teve que passar por um exilio na Espanha, devido a atividade política do seu filho.
Por isso tudo, acredito que esta é uma obra que demorou demais para ser conhecida pelo público brasileiro, espero que algum editor tenha a iniciativa de fazer a sua primeira tradução para o português. Talvez isso seja facilitado agora que haverá uma versão de “El Eternauta” para o cinema, com a direção da argentina Lucrécia Martel.
É isso aí.

5 comentários:

koisarada disse...

Muito foda. Eu tenho que ter ascesso a essa relíquia.
Eu consegui um link pra baixar a versão on line, mas não é a mesma coisa.

LATE NA AMÉRICA disse...

Po, não tava ligado nesse "gibi". Muito massa. Vamo faze uma traduação alternativa e rodar pra gurizada.

rosavermelhaenegra disse...

Muito bom os comentários que tu fez, ainda não li, mas pretendo...

Joe Nunes disse...

Cara!
Fantástica descoberta eu realmente desconhecia essa HQ. E tenho uma suspeita que a cada dia se torna mais forte e real: o nome daqueles aparelhos por aqui chama-se "televisão".

BrunOrtiz disse...

Já tinha ouvido falar dessa publicação. Mas, por motivos óbvios, nunca tive em mãos. Nem vi por aqui.
Como dizia um sábio do Pasquim cujo nome não me ocorre aqui:
Desenhar em tempos de repressão é simples, basta "correr o risco".